terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Jogo



       Quando ainda era criança eu tinha uma visão de mundo totalmente diferente da que tenho hoje. Cresci vendo o mundo como uma grande fazenda onde Deus era o fazendeiro e nós meros animais comandados pelo grande fazendeiro. Mas aos poucos vi que essa fazenda era um pouco mais desorganizada do que de costume. Coisas saiam do controle, tragédias inexplicáveis colocavam esse "senhorio" de Deus em cheque. A explicação para tudo isso? "Deus quis assim". Deus quis? Que raio de deus é esse que vê gente morrendo, se dando mal na vida, se ferrando dia a dia e fica de braços cruzados, porque "ele quis"? Deus gosta de ver gente se dando mal? Aí depois me explicaram que não, Deus não quis, mas como ele ama ele preferiu sair de cena dos acontecimentos humanos para que tenha liberdade de amar e apoiar nos momentos difíceis, pois "quem ama não domina". Tá, muito bonito, muito poético, mas se eu não consigo contar com o apoio de quem eu vejo e vou contar com quem eu nem vejo? Vi que a coisa não era bem assim. Abandonei essa visão de mundo. 

       Agora tentam me empurrar um mundo diferente do que aprendi a entender quando criança, mas tão complexo quanto. Teoricamente o segredo do sucesso no mundo não é mais a obediência a uma ordem divina, mas o esforço através do trabalho. Dizem que quem trabalha, quem estuda muito, quem se dedica e mantém foco dá certo na vida. Mas também vejo todos os dias gente focada, dedicada ao que faz e competentíssima que vive migalhando para sobreviver. Gente inteligente e ignorada. Gente com potencial subutilizado, com capacidade enorme e se dedicando a subempregos, porque "não tiveram sorte". Sorte? Quem determina essa sorte? Deus? Se é Deus quem dá sorte a uns e não a outros acabo caindo no mesmo conceito de quando era criança: um Deus que controla tudo e distribui, com sua vontade confusa e inexplicável, coisas boas a uns e ruins a outros, nem sempre pelo mérito. Elimino também a ideia de que o esforço e dedicação são chave para o sucesso.
        Que me resta? Entender que o mundo é injusto. Pessoas boas se dão mal e pessoas más se dão bem. Homens cafajestes tem as melhores mulheres e homens fieis ficam sozinhos. Gente traiçoeira enriquece e honestos morrem pobres. Gente esforçada passa a vida no anonimato e inúteis ganham fama. Assim consigo compreender que não há nenhum deus controlando o mundo e nem que é o próprio homem quem faz seu caminho através do trabalho, muito menos que existe a tal "sorte". O mundo é um jogo. Um tabuleiro. Nós somos os jogadores. Se dá bem quem consegue manipular as peças desse jogo com mais habilidade, independente do que essa pessoa faça para isso. Se você sabe manipular você pode ser burro como uma porta, mas você estará cercado de amigos. Se você não sabe manipular esse jogo você pode ser a pessoa mais agradável do mundo e estará sempre sozinha. Quem domina essas peças enriquece, ganha destaque, se dá bem. Quem não domina vive no anonimato. 
         Daí resta saber como aprender a manipular as peças desse jogo. Talvez pela convivência diária. A cada dia, a cada passo, a cada conversa de bar você conhece as pessoas e aprende um pouquinho mais sobre essas técnicas. Aos poucos você vai entendendo como sobreviver em seu mundo. Sabe que nem sempre as regras de um espaço se aplicam a outro. Nem sempre as pessoas são iguais, e nem sempre elas são mesmo o que dizem ser. Quando você começa a ter o domínio dessas peças do tabuleiro você entende que uma pessoa pode se dizer fiel, honesta, justa, mas na primeira oportunidade ela mesma se desmentirá. Mas ela vive bem. Por que? Ela domina as peças do jogo. Ter esse domínio é a chave para o sucesso.

         Tenho 20 anos. Vi muita gente boa morrer com essa idade. Ainda não morri - não sou um Bráz Cubas que escreve do além. Não sei quando irei morrer. Mas sei de duas coisas: 1) ainda não aprendi a dominar essas peças desse tabuleiro chamado vida. 2) preciso aprender a dominar isso antes de morrer, ou corro o risco de apenas existir.
          Espero ainda ter tempo para aprender a viver. Agora que já entendo como as coisas realmente funcionam no mundo, preciso me adaptar a essa nova forma de encarar as coisas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vielas amarelas

Sinto um nada por onde passo
É um nada que insiste em me acompanhar.
Pelas vielas, que o mal insiste
Perspetivas de amor não há.


O vento que balança meu vestido
Sussurra coisas pra mim...
O vento que balança meu vestido
Arrepia-me a alma, faz-me gritar.

Quero sentir algo por onde passo,
Quero sentir o prazer ao deitar e despertar.
Descobrir minhas forças escondidas,
Com escudos de tempestade me armar.

O vento vai ajudar
A levar-me até o grande castelo
Onde o nada é preenchido com tudo
Então dançarei em meu vestido amarelo.


Autora: Beatriz Belo

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Vida Limitada

És tão pequena e frágil vida
Que com um sopro te esvai
Levando contigo a alegria
A sombra de um sorriso que nunca mais.

Não te deixais o pequenina vida
Enganares com a ilusão
Fazendo o sorriso do pobre menino
Com seu violão e olhos que brilham
Cantar sua última canção.

De que adianta se vangloriar
Se num momento podes esta aqui
Outro podes não ta.
Perturbando a sanidade dos loucos,
Desacreditando os que acreditam um pouco
A frágil vida se prolongar.

Autora: Beatriz Belo